Urbanicidade – Xadrez de como o Sistema Judicial alimentou o fascismo à Brasileira

A dúvida é sobre o tempo para se atingir o fundo do poço. Os Bolsonaro parecem uma cloaca sem fundo.

Para dar uma balançada nessa modorrenta segunda feira de carnaval achei interessante sacudir a poeira um pouco e trazer esse artigo de LUIZ NASSIF publicado hoje (aqui). Muito bem informado ao que parece, o jornalista tece críticas bastante fortes a vários habitantes do andar cima, aquele que comanda os destinos de nosso sofrido país. E eu já tenho idade suficiente para ler tudo o que me cai nas mãos, sem pudor. Também digo que não obrigatoriamente concordo ou discordo das opiniões do autor deste artigo. Minha intenção é deixar sempre o espaço, e a mente, abertos para a discussão, desapegado de matizes ideológicos e partidários que porventura possam contaminar e obscurecer a verdade, posicionamento necessário para se sobreviver nesses nebulosos tempos. Que cada um tire suas conclusões e ainda, que delas faça bom proveito, porque o que se planta hoje se colhe amanhã. Vamos lá…

“A semente da politização e início da escalada fascista no Judiciário nasceram e foram alimentados na Procuradoria Geral da República, com a parceria entre o PGR Antônio Fernando de Souza, seu sucessor Roberto Gurgel e seu colega, ex-procurador, e Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa no caso conhecido como “mensalão”.

Nos últimos anos foram publicados diversos livros traçando uma radiografia do fascismo na história, identificando os pontos de partida, a incapacidade da sociedade de se dar conta da escalada até o movimento se tornar irreversível e promover tragédias nacionais.

 

Esse padrão aconteceu nitidamente no Brasil, no período que antecedeu a ascensão dos Bolsonaro ao poder.

As etapas principais desse processo têm como protagonistas o sistema judicial.

Peça 1 – a desorganização dos sistemas de informação

Antes do advento do rádio, a informação e a opinião eram organizadas em torno de partidos políticos, sindicatos, Igrejas. A chamada opinião pública difusa se expressava através de jornais, de posições políticas claras e com corpo restrito de opinadores.

Com o rádio, houve uma explosão de novas formas de opinião. A velha ordem se esboroa e, em seu lugar, entra o caos abrindo novas possibilidades políticas, das quais se valem novas lideranças e novos atores.

Assim como nos anos 20, a recente onda fascista global foi precedida pela desorganização do mercado de opinião com as novas tecnologias de informação e a explosão das redes sociais.

Peça 2 – o papel da Veja e de Roberto Civita

No caso brasileiro, há um fenômeno que acelerou a radicalização: o papel da mídia, liderada por Roberto Civita e pela Veja que, a partir de 2005, inaugura o jornalismo de esgoto, a guerra implacável contra um inimigo fabricado, com uso recorrente de fakenews embalados pelo discurso de ódio, seguindo o modelo do australiano Rupert Murdok.

As bestas das ruas começam a ser alimentadas pela própria cobertura midiática.

Nesse início de processo, o grande modelo do novo-velho jornalismo que emerge foi Olavo de Carvalho. É nele que os primeiros cultivadores de ódio da mídia vão se espelhar, na adjetivação virulenta, nos bordões, nos alvos da esquerda, nos métodos de manipulação dos argumentos.

Não adianta pretender minimizar sua atuação. Desde os anos 90, ao lado das igrejas evangélicas, foi o único agente político com visão de futuro, percebendo os movimentos subterrâneos que se formavam e entendendo o papel fundamental da formação política para o enfrentamento de ideias. Algo do qual PT, PSDB, Igreja Católica abdicaram. Sem recorrer aos recursos da salvação divina, Olavo conseguiu dar vida a um mundo anti-científico, supersticioso, vingativo que, cooptando um exército de zumbis, o transformou no brasileiro mais influente do seu tempo

Peça 3 – o ovo da serpente do mensalão

A semente da politização e início da escalada fascista no Judiciário nasceram e foram alimentados na Procuradoria Geral da República, com a parceria entre o PGR Antônio Fernando de Souza, seu sucessor Roberto Gurgel e seu colega, ex-procurador, e Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa no caso conhecido como “mensalão”.

Ali inaugura-se a aliança Judiciário-mídia que aniquila com os limites impostos pelos códigos e pelos princípios de direito individual, que sustentavam o pacto democrático pós-Constituinte de 1988. Nos anos seguintes, essa invasão dos bárbaros, demolindo qualquer vestígio de civilização, encontraria sua mais perfeita tradução no corneteiro Luis Roberto Barroso anunciando o novo Iluminismo, a refundação do país, enquanto bigas selvagens esmagavam direitos, rasgavam a Constituição e demoliam o custoso trabalho de reconstrução social pós-Constituinte.

Com todas suas manipulações, a Lava Jato chegou a fatos concretos, de corrupção e de financiamento de campanha. Já o “mensalão” se baseou em provas falsificadas, manipuladas pelo trio Souza, Gurgel e Barbosa: o suposto desvio de R$ 75 milhões da Visanet, que nunca ocorreu, e a manipulação da chamada teoria do domínio do fato, provocando a indignação do seu próprio autor, o alemão Claus Roxin.

Antes da Lava Jato, um parecer da Pinheiro Neto, dos maiores escritórios de advocacia do país, atestou que a verba da Visanet havia sido totalmente aplicada nas campanhas do cartão. Posteriormente, um relatório técnico da Polícia Federal confirmou o fato.

Em determinado momento, tentou-se centrar o desvio na chamada “bonificação de volume” – sistema criado pelos grupos de mídia para remunerar agências de publicidade pelas campanhas divulgadas. Quando se constatou que o maior beneficiário das campanhas da Visanet eram as Organizações Globo, voltou-se ao mote original.

Ali ficavam claras as intenções da própria cúpula do Ministério Público Federal de começar a manipular investigações e denúncias para se firmar como poder político de cunho conspiratório. E conferia-se a falta de tradição democrática e institucional do país. A semente do golpismo já estava entranhada na corporação, e não apenas nos Ailton Beneditos da primeira instância.

O ovo da serpente foi gestado naquele julgamento. Uma leve exceção no punitivismo do Supremo, a discussão dos embargos infringentes, fez com que a mídia direcionasse o ódio do populacho contra o Ministro Ricardo Levandowski

Todo o know futuro de parceria com a mídia, do discurso diuturno do ódio, da sincronização da escandalização com eventos políticos, visando interferir nas eleições municipais, de manipulação das leis, das teorias jurídicas, do código penal, de intimidação dos recalcitrantes, foi testado naquela julgamento. Tudo isso potencializado pela cobertura intensiva das audiências do STF, revelando personagens toscos e deslumbrados, como o então presidente do STF Ayres Brito, e a  submissão da corte aos urros da rua. Ali se formatava o direito penal do inimigo.

Antônio Fernando de Souza aposentou-se da PGR ganhando um mega contrato de advocacia com a Brasil Telecom, de Daniel Dantas, personagem que ele livrou do “mensalão”, ao atribuir o financiamento de Marcos Valério aos desvios da Visanet. Abria-se, pelo exemplo e pela blindagem, um caminho que seria seguido no futuro por outros colegas: o de se valer do trabalho no MPF para abrir novas oportunidades profissionais.

Como instituição que defende a revisão da Lei da Anistia e a Justiça de Transição, aguarda-se ansiosamente o momento em que a PGR e o MPF joguem luz sobre esses episódios em uma futura comissão da verdade. O MPF foi peça central no desmonte da democracia brasileira. E o STF o convalidador, ao abrir mão de sua responsabilidade de defender a Constituição e as leis.

Peça 4 – a trégua do sucesso de Lula

A crise mundial de 2008 promoveu uma trégua na guerra interna. Paradoxalmente o Brasil foi beneficiado. A crise promoveu uma desvalorização cambial que segurou a escalada desastrosa de apreciação do real no segundo governo Lula. Pelo rumo dos déficits comerciais, não fosse a crise, a crise externa explodiria antes do final do ano.

Ao mesmo tempo, eclodiu em toda intensidade uma até então impressentida genialidade política de Lula. A condução que deu ao combate à crise, a maneira como se conduziu nas negociações internacionais, lideradas por Celso Amorim, o pacto social que juntou grupos empresariais, mercado e movimentos sociais, deram ao país um protagonismo inédito no mundo e transformaram Lula no estadista mais respeitado do planeta. Durante algum tempo, passou-se a ilusão de que o país finalmente se civilizara, que a política se equilibraria entre a centro-esquerda e a centro-direita, sem movimentos radicais, como nas democracias europeias (que se supunha) consolidadas.

Mas o antipetismo crescia e estava claro, para quem tinha olhos para ver – não foi o caso nem de Lula, nem do PT, nem de Dilma – que, ao primeiro sinal de crise, se colocaria em marcha, novamente, a máquina de desestabilização política inaugurada pelo “mensalão”.

De certo modo, o “mensalão” foi uma benção, um alerta sobre as vulnerabilidades jurídicas e políticas do governo e do PT. Mas o sucesso posterior do governo Lula cegou o governo.

Peça 5 – a Lava Jato e o impeachment

A Lava Jato já foi suficientemente esmiuçada nos últimos anos. Desde as manipulações de delações, de sentenças, como foi o caso do TRF4 aumentando a pena de Lula para impedir a prescrição.

Nesse ponto, o fascismo encontrou sua mais perfeita tradução na bandeira anticorrupção. O antipetismo foi tão virulento e cego que permitiu o desmonte da engenharia brasileira, a eliminação de centenas de milhares de empregos, o aprofundamento visceral da crise, que já vinha sendo alimentada pela queda nos preços das commodities e pela gestão econômica desastrosa de Dilma Rousseff, e na implantação da chamada democracia mitigada – uma imagem suave para o estado de exceção implantado no país. O impeachment arrebentou definitivamente com a ordem constitucional, tendo como pontas de lança cristãos novos do estado de exceção, como Luis Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, um PGR, Rodrigo Janot, que lisonjeava o PT, enquanto poder, e que se tornou rapidamente seu algoz quando os ventos mudaram.

Àquela altura, o Judiciário já tinha mostrado sua verdadeira cara. A proliferação de novos partidos e a radicalização nas redes sociais ganharam adeptos em todo o sistema judicial. Assim como nos movimentos de rua, o proselitismo, as redes sociais, os grupos de WhatsApp desnudaram uma corporação com instintos tão primários quanto as massas ululantes.

Uma pesquisa, ainda hoje, mostraria uma maioria assustadora de juízes, desembargadores e procuradores alinhados com o bolsonarismo, mesmo com as demonstrações diárias de um movimento moralmente doentio, politicamente ameaçador, como foi o fascismo italiano e as primeiras movimentações do nazismo.

A pá de cal na democracia veio com o esvaziamento programático do PSDB e sua adesão ao discurso de ódio, através das manifestações, especialmente, de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves e Aloysio Nunes. Ali ocorreu um processo de autodestruição da segunda perna na qual se sustentava o sistema partidário.

Peça 6 – a custosa redenção

Por outro lado, a visão da bocarra sinistra do bolsonarismo, suas sucessivas declarações de guerra à mídia, o corte nas verbas publicitárias e o hálito peçonhento, imoral, doentio, somado à derrota do petismo – esvaziando o álibi do antipetismo – permitiu um relaxamento na ordem unida.

A extrema crueldade com que a mídia tratou o casal Lula, com a casa invadida, a cama revirada, a condução coercitiva, a própria morte de Mariza Silva, de repente foi substituída por uma reação contra as manifestações indignas dos bolsonaristas, a começar do filho Eduardo, no recente episódio da morte do neto de Lula.

Antes disso, a mídia de opinião começou a permitir gradativamente manifestações progressistas de alguns jornalistas. A razão era simples. O público viciado em violência, que ela ajudou a construir, estava definitivamente nas mãos das redes sociais. Restava-lhe voltar ao público mais seletivo, consumidor de opiniões plurais e civilizatórias.

Aliás, é curioso como se dá esse endosso tácito a uma opinião relativamente mais plural. Os jornais começam a se permitir notas críticas, em relação ao pensamento selvagem dos Bolsonaro, manifestações tímidas em relação aos abusos contra direitos humanos. Os primeiros jornalistas saem da toca e passam a inovar no discurso da última década – defendendo temas civilizatórios. A repercussão motiva outros jornalistas. E, assim, tenta-se voltar ao pluralismo dos anos 90, em um momento em que o modelo jornal está em crise mundialmente.

O que virá daqui por diante é uma incógnita.

Não haverá saída fora da pacificação da sociedade brasileira. E a pacificação passa pelo fim da perseguição implacável a Lula. Trata-se de questão central, que jamais será abraçada pelo bolsonarismo.

O movimento civilizatório é crescente. Não se sabe se a ponto de encorajar o STF a colocar um fim na perseguição a Lula. Recorde-se que na reunião de Bolsonaro com os chefes de outros poderes, para discutir a crise venezuelana, os dois únicos endossos partiram do inenarrável David Alcolumbre, presidente do Senado, e de Dias Tofolli, presidente do STF. Nem os militares, nem Rodrigo Maia, presidente da Câmara, apoiaram a aventura.

Não se tenha dúvida de que o país precisará bater no fundo do poço, antes de começar o rearmamento moral – assim como a humanidade só encontrou um período de paz relativamente mais duradouro depois do desastre da Segunda Guerra e do nazismo.

A dúvida é sobre o tempo para se atingir o fundo do poço. Os Bolsonaro parecem uma cloaca sem fundo.

PS – Devido ao seu comportamento recente, de defensor relevante e corajoso do estado de direito e das garantias individuais, deixo de mencionar o papel central de Gilmar Mendes no período anterior.”

Urbanicidade – Boechat

Em outubro do ano passado tive a oportunidade de assistir uma palestra do jornalista Ricardo Boechat, em Vitória, no Estado do Espirito Santo. Casualmente fiquei na entrada destinada aos palestrantes e de repente ele sai do recinto para fumar um cigarro. Ainda faltava uma meia hora para o evento. Fiquei de longe olhando e enfim tomei coragem. Me aproximei dele, cumprimentei-o e para não perder tempo, perguntei rápido: “E então Boechat, como será o ano de 2019?”. Ainda não estava definido o 2º turno das eleições. Ele me respondeu: “- Ninguém sabe.” “- Mas e a questão internacional, como ficaremos perante o resto do mundo, com esse processo eleitoral tão caótico?”, provoquei (e ainda estava completamente indefinido o quadro eleitoral, repito). Ele me respondeu: “- Isso não vai se alterar em nada. Eles, lá no primeiro mundo, sabem o que está acontecendo aqui, são bem atualizados”. Conversamos mais um pouco, mas ele talvez impaciente pelo atrevimento daquele reles cidadão, ou até mesmo ansioso pelo próprio clima instalado no final do ano passado e pronto para encarar uma palestra para mais de mil pessoas não quis estender muito a conversa. Eu, simplório como sempre, nem foto com ele quis tirar. Nos despedimos, desejei felicidades e fui me assentar na platéia. Foi uma palestra muito boa. Inteligente, bem articulado e isento de paixões ele levou seus argumentos com firmeza e sem tropeços. Fiquei ali analisando para ver se ele cometia alguma bobagem ou falasse alguma coisa sem pé nem cabeça, mas ele foi coerente até o fim e sem demonstrar preferência eleitoral. Valeu a pena. Bem diferente da palestra de um jornalista da Globo News e de um ministro do supremo, que pude assistir em distintas oportunidades, onde não disseram nada que se aproveitasse. O jornalista da GN quase pediu desculpas por estar ali, tamanho despreparo. Boechat não, foi firme em suas explanações. Enfim, perdemos hoje mais do que um bom jornalista, mas um grande brasileiro. Que hora ruim, heim Boechat?

Urbanicidade – Brasil: “Um país sem futuro”

Com o titulo acima o professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Politica de São Paulo) Aldo Fornazieri, fez a mais triste e contundente previsão para o futuro do meu país (aqui). Realmente é de se “jogar a toalha”. Agora, mais do nunca, fica comprovado: ESTAMOS MATANDO NOSSOS NETOS! Quem viver verá. Confesso que tirei algumas partes do texto para evitar as colocações que possam gerar desconforto político-partidário-ideológico. No texto, o grifo é meu.

“Ao se estudar a história particular de cada país se verá uma variedade de situações e de circunstâncias que aproximam algumas e distanciam outras. Uma dessas situações diz respeito ao fato de que alguns países são inovadores, conseguem superar as condicionalidades de um passado difícil e se modernizam com igualdade, justiça e progresso, enquanto que outros não conseguem se desenvolver e permanecem prisioneiros das determinações do passado e se tornam cativos da desigualdade, das injustiças e do atraso. O Brasil, certamente, é do segundo tipo. Aqui o passado determina o presente e bloqueia o futuro e os mortos governam os vivos.

O mais provável é que existam muitas razões para o triunfo do atraso e das determinações  do passado no Brasil. Aqui, apontar-se-á apenas uma: o problema da fundação, da gênese. Maquiavel, ao estudar o grande historiador de Roma antiga, Tito Lívio, assevera que as repúblicas mal fundadas tendem a permanecer extraviadas ao longo dos séculos, como que buscando um caminho na escuridão, e procuram encontrá-lo através da promulgação de um cipoal infindável de leis, pensando que estas podem consertar a realidade, mas que sequer entram em vigor. As décadas e os séculos passam sem que esta república encontre a sua verdade, sem que o povo esteja ao abrigo das misérias humanas e sem que a justiça, a igualdade e a liberdade sejam frutos acessíveis para a generalidade das pessoas.

Ainda de acordo com Maquiavel, com base em Tito Lívio, as repúblicas bem fundadas são aquelas que nascem de um ato de terror fundante, no qual, o arbítrio dos mais fortes é passado no fio da espada para fundar a validez da lei originária, alicerçada nos princípios da igualdade e da justiça. De tempos em tempos, esse ato precisa ser renovado com a punição exemplar daqueles que tentam violar ou corromper estes princípios. Sem este ato, os mais fortes não terão freios e exercerão o arbítrio, a dominação e a violência sobre os mais fracos.

Maquiavel vê atos de terror fundante exemplares em Moisés, quando desceu do monte Sinai e mandou passar no fio da espada 22.200 homens por terem implantado a desordem; em Ciro, ao se revoltar contra os medas e fundar o império Persa e em Rômulo, ao matar Remo para garantir a fundação e a segurança de Roma. Modernamente podemos ver esses atos nas Guerras de Independência e de Secessão dos americanos, na Revolução Francesa, na Revolução Cubana e assim por diante.

Na história do Brasil, o poder político e suas formas constitucionais e jurídicas sempre foram produtos do trabalho usurpador das elites econômicas e políticas e expressão de seus interesses. Em nenhum momento dos processos fundantes desse poder o povo foi partícipe enquanto sujeito e sempre teve seus interesses e direitos excluídos dos arranjos legais e constitucionais que se efetivaram ao longo do tempo. Notadamente, a Independência se revestiu de uma transformação perpetrada por segmentos que representavam os interesses da metrópole e a Proclamação da República assumiu o caráter de um golpe do qual, o povo, bestializado, nos termos de Aristides Lobo, não participou e sequer compreendeu o seu significado.

No Brasil, o povo nunca foi soberano, a lei nunca foi igual, a democracia nunca existiu para a grande maioria das pessoas pobres. As tentativas de refundar e fundar o Brasil, primeiro com Getúlio Vargas e, depois, com Lula, foram atacadas pela ação corrosiva das elites, por guerras políticas sem escrúpulos e sem quartel, pela violência, pela traição e por golpes que visaram perpetuar a ordem da dominação do passado, manter o presente do povo na miséria e interditar o futuro.

Se o Brasil é um país sem presente por conta de todos os males que assolam o povo – desemprego, falta acesso aos serviços de saúde, falta de educação, salários baixos, falta de cultura e de lazer, pobreza, preconceitos, falta de direitos, violência etc. – os dados da Revisão 2018 da Projeção da População do Brasil, divulgados na semana passada pelo IBGE, confirmam que o país não terá futuro.

O presente do Brasil é trágico, sem dúvida. Mas o seu futuro poderá ser ainda mais trágico. O país está envelhecendo de forma mais rápida do que se pensava. Em 2039, o número de pessoas com mais de 65 anos será superior ao número de crianças e jovens com menos de 15 anos. Em 2060, uma de cada 4 pessoas terá mais de 65 anos.

O problema é que o bônus demográfico evaporou: os jovens de hoje envelhecerão sem oportunidades, sem emprego, sem qualificação, sem poupança e, provavelmente, uma previdência razoável. Serão velhos, pobres e sem assistência e sem direitos. Os jovens de hoje e o sistema de trabalho de hoje não estão nem bancando sequer a previdência de hoje. O Brasil ocupa o sétimo lugar entre os países que mais matam jovens no mundo. Em todos os sentidos, o Brasil está queimando, dissipando, o seu futuro. Os jovens mesmo estão dominados pela ideologia do consumo. Não poupam e não se previnem. Não imaginam que amanhã poderão cair e que ninguém lhes dará a mão para se levantarem.

O Brasil está envelhecendo sem a infraestrutura adequada para o progresso e sem a infraestrutura para a velhice. As cidades, os transportes, o sistema de saúde, o sistema previdenciário, a mobilidade urbana, as estruturas de comércio, nada está preparado para um país com forte presença de pessoas idosas. Sequer níveis satisfatórios de saneamento básico existem.

O pior de tudo é que, a partir do golpe, o Brasil está andando para trás. O governo e o Congresso golpistas estão empenhados em destruir políticas e programas que vinham contribuindo com a redução da pobreza e com a sustentabilidade ambiental. Governo e Congresso estão dominados por grupos criminosos, a exemplo do agronegócio, grupo que não tem nenhuma consideração com a dignidade humana e com a sustentabilidade ambiental, com o futuro dos brasileiros e com os brasileiros do futuro.

As diferenças entre ricos e pobres se tornam cada vez mais abissais, tenebrosas, terríveis. As exclusões históricas, de raça, de gênero etc., se aprofundam e políticas inclusivas, ou são extintas ou têm os recursos calcinados. Se as pessoas pobres já não tinham acesso a hospitais, hoje não têm acesso a médicos. Vivem doentes e morrem sem atendimento. Estamos entre os países mais violentos e desiguais do mundo. O Brasil está sob a égide de elites econômicas e políticas criminosas, perversas, cruéis.

(…)

O povo precisa alimentar um temor terrível dessa monstruosidade que está sendo feita contra ele. Este temor, que deve ser o temor pela vida desgraçada que leva à morte, precisa despertar a clarividência da razão. Da razão que ilumina e que desperta a consciência de que não há motivo para não lutar. Aliás, de que o principal motivo da vida, agora, é lutar. E aqueles que têm consciência precisam fazer apelos por corações irados, por organizações de irados, pela força de gente irada. As lideranças precisam fazer apelos pela indignação e pela fúria. É preciso organizar a fúria. Não dá para tratar com bons modos uma elite que trata o povo com brutalidade.

(…)”

Urbanicidade: “Brasamericans, será a nova elite?”

Trago hoje um excelente texto do jornalista André Araújo (aqui), a respeito de um assunto sempre oportuno neste sofrido país, onde muita boa prefere sonhar em se mudar daqui em detrimento de lutar para entender e melhorar este que, sem sombras de dúvidas, é o melhor lugar do mundo para se viver. No nosso dia a dia sempre vemos exemplos daquilo que Nelson Rodrigues cunhou, ou seja, o já conhecido “Complexo de Vira Latas”, com pessoas dizendo que “isso é Brasil”, induzidas muitas vezes por décadas de informações oriundas da grande mídia, esta sim, trabalhando incessantemente para entregar nossas riquezas e nossas consciências. Vamos lá sem mais delongas…

“Está se formando um núcleo de executivos e advogados brasileiros na faixa dos 30 aos 40 anos, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que vivem no Brasil como estrangeiros. São muitos e estão por todo lado, com o bolso cheio e a cabeça em Miami. Os economistas foram precursores dessa onda já desde os anos 90, os advogados e executivos os seguem.

Os filhos pequenos estudam em escolas que alfabetizam em inglês, custam 8 a 10 mil Reais por mês por criança, as portas das escola são um desfile de peruinhas que só falam na próxima viagem e nas maravilhas da personal  trainer que conheceram numa festa.

O sonho máximo é morar no exterior, MAS usufruindo renda do Brasil, porque ganhar a vida no exterior é muito mais difícil do que no Brasil, que então servirá como guichê de remessas.

O “background” cultural dessa turma é paupérrimo. Não tem consciência do Brasil e de sua complexa e magnífica História, único Império das Américas, o primeiro País de dimensão continental no Hemisfério Ocidental, quando o Brasil já era um grande País os EUA nem tinham nascido. Maior pais católico entre todos, maior cultura multiétnica e multirracial, principal receptor de imigração italiana, sírio-libanesa e japonesa do planeta, um País único pela sua reserva ecológica e recursos hídricos inigualáveis. País de esplêndida geografia e complexidade formativa, grande diplomacia no Império e na República, único Pais latino-americano a lutar na Segunda Guerra, País fundador das Nações Unidas logo depois dos EUA.

A pobreza cultural cria uma visão provinciana dos EUA, sem ver as mazelas, cruezas, durezas, ignorância que aflige boa parte dos americanos. A falta de conhecimento faz ver os EUA por cima, pela superfície, sem saber dos terríveis processos de sofrimento e miséria que marcam a formação dos EUA. Se conhecessem a profunda dramaturgia social americana dos anos 20 e 30, os dramas colossais de Arthur Miller, Tennessee Williams, Clifford Odetts, Theodore Dreiser, Eugene O´Neill, William Faulkner, da geração perdida da Grande Depressão, da virulência do racismo,  teriam uma visão menos glamorosa dos EUA, pais ainda hoje com enormes tensões sociais, com 2 milhões de encarcerados mas também com fantásticas realizações culturais nos seus magníficos museus, orquestras sinfônicas, instituições de pensamento, tudo aquilo que esse grupo de brasileiros não tem nenhuma atração, seu mundo é bem mais superficial,  lanchas, carros, shopping, clubes de golfe e restaurantes, aquilo que o pobre de espirito encara como seu objetivo na busca de identidade superior.

A ELITE AMERICANIZADA LATINO AMERICANA

Esse grupo de elite com olhos no exterior sempre existiu em países menores da América Latina, MAS não no Brasil, País muito maior e de sólida História e cultura própria. Porque isso mudou nos últimos anos, de forma visível e palpável, já agora com interferência na politica?

A meu ver esse processo começou como consequência e projeção do governo FHC e suas politicas diminutas, de viés neoliberal puro, sem adaptação às circunstâncias do País. Na leva dos novos negócios da privatização surgiu todo um modelo de economia completamente vinculado ao financismo de Nova York, com seu desdobramento em novo perfil de executivos, de advocacia internacional  e gerenciamento nas empresas, abrindo espaço para jovens com pós graduação nos EUA, uma experiência que existia de forma esporádica e que explodiu nos últimos vinte anos, com milhares de jovens formados de classe media alta indo para universidades americanas. Uma vez inserido no contexto americano a lavagem cerebral é uma certeza. Em cinco anos o número de brasileiros que fazem graduação nos EUA subiu 65,8% (matéria no ESTADO DE S.PAULO, 8/10/2017, pg.A16) e continua a subir.

Voltam americanizados e muitos se casam com colegas brasileiras que conheceram lá ou que também fizeram cursos nos EUA, formando casais BRASMERICANS que já pensam nos filhos como ligados à cultura americana. A partir daí as escolas bilíngues reforçam essa desnacionalização, gerando tipos híbridos, não são nem brasileiros e nem americanos, uma espécie de ameba indefinível, falta-lhe a lealdade nacional, mas tampouco são americanos de raiz, ao fim não são nada, apátridas não de passaporte, mas de alma.

Alguns casais chegam ao delírio de mães brasileiras terem filhos nos EUA para conseguir para eles a cidadania americana, cospem na pátria que lhes dá o sustento, renegam a bandeira.

A IDENTIDADE NACIONAL é um dos maiores instrumentos civilizatórios e de formação de personalidade, é uma das forjas do caráter e da consciência de grupo. Dessa identidade nasce a SOLIDARIEDADE entre cidadãos do mesmo País, os mais abonados ajudando por iniciativas públicas os mais desafortunados, foi assim que os EUA se tornaram a primeira potência mundial, é essa a missão da elite chinesa, a cada ano agregando novas camadas pobres ao processo de desenvolvimento e de inserção na economia moderna nacional.

Um das mais tristes figuras da humanidade é o APÁTRIDA, aquele ser sem o agasalho de um País que pode chamar de sua gente, de seu grupo, de sua cultura. Sem identidade nacional jamais haverá solidariedade social, os mais ricos não estão minimamente preocupados com seus concidadãos mais pobres, não há um vínculo de destino comum que faz uma NAÇÃO.

Tudo isso é muito novo no Brasil. Não era e nunca foi assim. O Brasil não é um pequeno País como Honduras ou El Salvador, onde as elites são tradicionalmente americanizadas porque a identidade nacional é tênue, esse viés é típico de países latinos de raízes apagadas.

Tive um parceiro empresarial, executivo de uma grande multinacional elétrica do Wisconsin.

Ao se registrar no hotel em S.Paulo a recepcionista, querendo ser gentil, perguntou “É peruano?” dado o inconfundível perfil inca do cidadão que reagiu apoplético aos berros “Yo soy americano”, jogando o passaporte USA no balcão. Era evidentemente um peruano naturalizado americano, mas não queria ser confundido com peruano, se julgava superior sendo americano.

Nunca vi brasileiro renegar sua nacionalidade, mas vejo que a situação está mudando. O governo FHC trouxe para o poder um grande grupo de “retornados”, brasileiros com longas passagens pelos EUA e que perderam boa parte de suas raízes. Esse grupo submergiu no governo do PT, mas agora ressurge com força total nas consultorias, nos escritórios de advocacia, nos escritórios de gestão financeira e fundos de investimento, nas multinacionais de serviços, e desses ninhos partem para movimentos de viés politico tentando influenciar  a vida nacional para que esta se ajuste a seus interesses de classe, não estão minimamente preocupados com o País como um todo que inclui dois terços de uma população carente e pobre. Quando tratam de crime e segurança não expressam nenhuma preocupação com a raiz social evidente na existência de uma população de 20 milhões de jovens sem educação, sem emprego e sem nenhuma perspectiva de futuro, matéria prima obvia da marginalidade e do crime e deste para a insegurança de todos.

Lembra o passado colonial da África, pelo absoluto desdém que a elite governante tinha pela população pobre, vista apenas como mão de obra econômica e sem nenhuma outra consideração pela sua saúde, educação e futuro, essa a visão da atual “nova” elite brasileira Americanizada, muito pior que a antiga aristocracia do Império e da Primeira Republica, Estado Novo e Republica de 1946 que tinha sólidas raízes nacionais e uma clara visão de Pais, gerando  o maior crescimento econômico entre todos os Países no Século XX.

Os neoliberais, grupo maior do qual fazem parte os BRASMERICANS  propõe a diminuição do Estado pelo lado social abençoando a economia de mercado, que só pode suprir a classe de renda alta e se desconecta dos 140 milhões de brasileiros sem renda significativa que compõe a “classe menos favorecida”. Para essa esse grupo eles não tem nada a propor.

Nenhum País será desenvolvido com essa visão colonialista de sua elite, mas parece que o grupo GLOBONEWS-MIAMI quer assumir o poder com uma plataforma de franceses na Argélia ou belgas no Congo, é o chamado “centro” que vibrava com uma candidatura Luciano Huck e agora está órfã à procura de outra do mesmo matiz.

Felizmente, a Historia não é tão simples, a tensão social é dinâmica e não estaciona no tempo, os países grandes são muito mais complexos do que patotinhas de happy hour podem supor.

A ELITE AMERICANA

Os BRASAMERICANS se pretendem elite brasileira, mas não assimilam os grandes traços da elite americana, a filantropia em favor de causas públicas. De John Rockefeller a Bill Gates essa elite doou centenas de bilhões de dólares a causas públicas, coisa que a elite brasileira nem sonha copiar.

Universidades, grandes museus, orquestras filarmônicas, companhias de ballets, teatros de ópera, a elite empresarial americana também patrocinou institutos de pesquisa e pensamento que são o eixo do poder americano. Os formados em universidades DOAM enormes volumes de dinheiro quando tem sucesso na vida, aliás essas universidades quase todas nasceram com doações de empresários, como Leland Stanford, que fez a linha transcontinental do Atlântico à San Francisco e criou a Universidade que leva seu nome, o fundo de investimentos da Universidade de Yale tem 32 bilhões de dólares, fruto de doações, a de Harvard tem 24 bilhões de dólares, centros de pesquisas em saúde e medicina, centros de estudos políticos como o Centro de Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade de Georgetown, o Instituto Paterson de Economia, o Instituto Pew de Pesquisas em Politicas Públicas, a família Rockefeller comprou o terreno para a primeira sede das Nações Unidas e doou para instituições em todo o mundo, como a Faculdade de Medicina de São Paulo, hoje USP. Já a Maternidade São Paulo, onde nasceram milhares de paulistanos ricos, como Paulo Salim Maluf, fechou por falta de dinheiro, ninguém doou nada nem para a instituição onde nasceram, uma elite descolada até de seu passado, de sua cidade e de seu Pais.

Já os BRASMERICANS querem só emular as frivolidades da vida americana, mas não suas obrigações públicas, o que é uma negação do conceito de elite, querem ser apenas uma elite de privilégios, de desfrute da vida e não uma elite do saber, da arte e da cultura.

Não vamos todavia pensar que sempre foi assim. A elite paulistana de 1922 fez a Semana Modernista, de enorme importância nas artes, a elite do Estado Novo incentivou a literatura nacionalista  e a música de qualidade, a arquitetura, a ciência e com isso reforçou a identidade nacional altíssima durante a Era Vargas que se prolongou pelo Governo JK e atingiu o Governo militar de 1964. O fim desse período de alta consciência nacional foi o Governo Collor e seu reforço se deu no Governo FHC, todo estrangeirado por tipos “internacionais” como Henri Reichstul, David Zylberstajn, Francisco Gros, e brasileiros americanizados como Arminio Fraga, Gustavo Franco e toda uma gama de pós-graduados no exterior com viés neoliberal de segunda mão involutivo, estacionado no tempo, voltam agora no chamado “centro” com as mesmíssimas ideias já gastas por 20 anos de corrosão histórica onde a ascensão triunfal de uma China estatal, a economia de mercado é apenas uma embalagem, desmente a exclusividade dos “mercados” como instrumento de evolução econômica e social.

Ao contrário um “mercado” largado social está destruindo o equilíbrio social da mais equilibrada sociedade dos grandes países, a sociedade americana, que hoje conhece sua maior corrosão social causada por uma absurda concentração de riqueza nas mãos de um financismo alucinado que liquida com empresas e empregos na busca de uma eficiência micro e no caminho causando uma ineficiência macro de famílias morando em trailers, em carros, de uma sociedade drogada pelo desespero da desinclusão e do retrocesso econômico.

Os BRASMERICANS querem importar e impor ao Brasil os mesmos descaminhos da sociedade americana retorcida pelos “fundos hedge” e outras feitiçarias de Wall Street e pior, impor praticas desse naipe sobre uma sociedade muito mais frágil, que é a brasileira das periferias pobres e desempregadas, criando um Brasil tipo “condomínio fechado” exclusivo para o “clube de Caras” do eixo Guarulhos-Miami, desligando-se do destino nacional do  Brasil, agora transformado em “plataforma” para fundos de investimento e nada mais.”

Urbanicidade – “XADREZ DA SEGUNDA ETAPA DO GOLPE POLÍTICO”

Venho dizendo, há muito tempo até, que vivemos tempos bicudos. Tem muita coisa que não vem cheirando bem e a gente finge que não temos olfato. Trago agora um artigo do jornalista Luiz Nassif que mostra como o dedo da Rede Globo é grande e é ela quem determina os rumos de nosso país hoje. Original aqui. Sugiro sua leitura com cautela, pois as consequências podem ser desastrosas. Alguém dúvida, por exemplo, que as eleições previstas para o final deste ano não estejam correndo perigo? Quem viver verá. Vamos lá.

“PEÇA 1 – A FALSA LEGALIDADE

A ideia de que a intervenção no Rio é democrática, porque segue os preceitos da Constituição é tão falsa quanta a da legalidade o impeachment.

Segundo o Ministro da Justiça Torquato Jardim (que foi jogado para escanteio nesse planejamento) “é importante repetir que a intervenção na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro cumpre estritamente o ordenamento jurídico brasileiro e servirá para aperfeiçoar a democracia no nosso País.”

Michel Temer decretou uma intervenção no Rio de Janeiro. Mas não se contentou com uma intervenção qualquer. Foi uma intervenção militar com um interventor das Forças Armadas, respondendo diretamente ao Presidente da República.

Não há sinais estatísticos de uma situação fora de controle.

Entrevistada pelo Estadão, a diretora presidente do Instituto de Segurança do Rio (ISP), Joana Monteiro, informou que os dados de segurança mostram que não houve uma onda de violência atípica (clique aqui),

Segundo ela, “foram registradas 5.865 ocorrências policiais no total no Rio, entre os dias 9 e 14 de fevereiro, enquanto no carnaval do ano passado (quando a Polícia Civil ainda estava em greve), foram 5.773. Em 2016, 9.016 ocorrências foram registradas e, em 2015, computaram-se no total 9.062”.

Esse mesmo sentimento foi manifestado pelo próprio interventor, General Walter Braga Neto, que atribuiu o clima de fim de mundo aos excessos da mídia (clique aqui).

PEÇA 2 – O PAPEL DA GLOBO

Temer não é dado a jogadas de risco. É figura menor. Assim como no impeachment, sua adesão ao golpe foi estimulada diuturnamente pela cobertura de carnaval da Globo, em tom francamente alarmista. Em cima desse quadro, um grupo de assessores tratou de convencê-lo a endossar o golpe.

Fica claro que, daqui para diante, o novo fantasma nacional será a violência do crime organizado.

Agora à noite, a comentarista Natuza Nery, também da Globonews, falava de um clima de violência que ameaça envolver o país inteiro. E atribuiu ao fracasso da política.

É fácil entender as estratégias da Globo porque há sempre um alinhamento total de seus comentaristas com as ordens que vêm de cima. Agora à noite, além da unanimidade de comentaristas da Globo News, insistiu-se no clima de fim de mundo para o Rio, com a seleção de entrevistados endossando as medidas.

Como não houve pontos fora da curva entre os comentaristas, reafirma-se a suspeita de que as medidas já eram de conhecimento da Globo, que, assim, teve tempo de alinhar seus solados – ao contrário do que ocorreu nos primeiros momentos das delações da JBS.

Trata-se, portanto, de um novo golpe, com papel central das Organizações Globo. Carregou no noticiário, criou um quadro de escândalo, deu ênfase a violências urbanas deploráveis, mas antigas, visando criar o clima de pavor. Da mesma maneira como cobriu arrastões armados, no governo Leonel Brizolla.

PEÇA 3 – A LUTA CONTRA O CRIME

Para que o golpe se sustente, há a necessidade de manter um clima permanente de catarse.

Há dois caminhos delineados.

O primeiro, de forte apelo popular, de intervenção no orçamento do Rio de Janeiro, reduzindo as benesses do Judiciário e outros setores privilegiados. Essa possibilidade fio aventada por autoridade de Brasília que tem sido consultada frequentemente por Michel Temer.

A segunda é partir para a luta aberta contra organizações criminosas, visando elevar a temperatura ainda mais.

São Paulo já tem experiência dessa maluquice, quando, em 2006, o governo Geraldo Alckmin, e um Secretário de Segurança pirado, Saulo Queiroz, decretaram guerra contra o PCC.

Houve a invasão da cidade pelo PCC, seguido de um massacre da PM, matando indiscriminadamente jovens de periferia sem antecedentes criminais. Foram mais de 600 mortes em uma semana.

O que as Forças Armadas poderiam fazer no Rio? Montar barricadas, trincheiras? Invadir casas? As organizações criminosas não estão situadas em territórios próprios, como na guerra convencional. Estão misturados às pessoas, aos cidadãos comuns, vítimas dele. O que ocorreria com esses cidadãos, em caso de confrontos diretos entre Exército e organizações criminosas?

PEÇA 4 – OS FATORES DE RISCO

Nos próximos dias, a Globo vai ampliar o discurso de caos na segurança, visando legitimar a segunda etapa do golpe.

Por outro lado, as Forças Armadas foram jogadas no meio da fogueira. O fracasso da operação será o fracasso da intervenção. Qual seria a reação das Forças Armadas? Assimilar o desgaste ou exigir ampliação da sua interferência?

A tomada de decisão, logo após o Carnaval, teve um objetivo adicional: impedir o desfile das campeãs, com os carros alegóricos da vice-campeã Paraiso da Tuiuti, com um vampiro representando Temer.”

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