29 de março de 2024 09:32

Congonhas do Campo e sua trajetória histórica

Os descobertos de ouro que deram origem ao Arraial das Congonhas do Campo são de data incerta, mas a documentação de referência existente, assim como a historiografia seiscentista sobre Minas Gerais indicam que possam ser anteriores à década de 1690. O descoberto oficial das Minas em 1693 com o roteiro e a memória de Antônio Rodrigues Arzão, citando Itaverava, próxima a Carijó, indica a proximidade do roteiro dessa bandeira da região das Congonhas. Logo a seguir, estavam ali Manuel de Camargos e Sebastião de Camargo, também em demanda da Casa da Casca (sertões da Casca ou distrito do Cuieté (ou Caeté, “mato bravo”) a cinco léguas do rio Doce). Vindos pelos divisores de águas e descendo ribeirões à procura do ouro de aluvião, é certo que exploradores que chegavam a uma amistosa aldeia de Carijós – índios e mamelucos – (origem, talvez mitificada, de Queluz/Conselheiro Lafaiete) se embreavam pelas margens do Rio Paraopeba e do Rio das Congonhas (atual rio Maranhão) abaixo, indo explorar bem cedo, a região em que se levantaria a povoação de Congonhas.

O Padre João Antonio Andreoni, que sob o pseudônimo de André João Antonil escreveu Cultura e Opulência do Brasil pelas suas drogas e minas…, visitou as Minas Gerais pelos anos de 1704-1706 onde cita a “roça das Congonhas, junto ao Rodeio de Itatiaia” como parte do caminho que percorreu. Não há referência a um povoamento, mas a posição no roteiro coloca essa “roça” próxima ao atual distrito de Lobo Leite, ainda no município de Congonhas. Cita, no entanto, que “se tirava e se tira escondidamente de outros ribeiros que os descobridores não manifestaram, para os não sujeitarem logo à repartição”

Observaram todos os primeiros bandeirantes os campos de altitude que se iniciam na região entre Borda do Campo e as serranias ao norte e nordeste. O cerrado, os campos e vegetação de campos ferruginosos retém em alguns de seus topônimos mais antigos a nomenclatura tupi, onde se ressalta o próprio nome dado a toda a região e depois ao povoado aurífero que ali se estabelecer: “do Tupi: cahã-nhonha = mato desaparecido, lugar desmatado; Congonhas – uma grande extensão de campo com vegetação baixa”.

Na “Relação do Princípio Descoberto destas Minas”, o Excelentíssimo Senhor dom Brás da Silveira apresenta compilação realizada por volta de 1750 sobre relatos orais a respeito dos primeiros tempos nas Minas, onde é citado o descoberto de ouro no Ribeirão das Congonhas, mas sem data-lo com precisão:

“Sucedeu que vindo os paulistas naquele tempo, fizeram entrada ao gentio a estas partes para o conduzirem para São Paulo por negócio e se servirem dele, conduzindo os de menos idade por melhor se lhes domar e por doméstico, e chegando a primeira esquadra ou bandeira ao ribeiro que hoje chamam de Ouro Branco e Congonhas do Campo, aí acharam algumas faíscas de ouro nas areias do ribeiro e, levando-o em pratos de pau, o levaram para São Paulo, onde se verificou ser ouro”.

Porém o mapa do Padre Cocleo, de cerda de 1700, contradiz parcialmente o documento transcrito acima, pois já mostra descobertos na região datando-os de 1699.

Uma história social de Congonhas do Campo: os primeiros habitantes, indígenas, ‘carijós’ e os ‘desclassificados’

‘Desclassificados do Ouro’ é uma expressão data pela historiadora Laura de Mello e Souza, título de uma de suas principais obras sobre Minas Gerais, onde focalizou com grande sensibilidade a sociedade mineradora e possivelmente a mais importante engrenagem a produzi-la.

A história da receptividade no local da futura Queluz, por parte dos ‘índios-carijós’ não se repetiu na região das Congonhas.

Naquele ponto os índios que habitavam o médio-alto Paraopeba resistiram às penetrações das bandeiras, possível motivo pelo qual os primeiros caminhos para o ‘Itatiaiussú’ e para o Morro de Mateus Leme evitaram o vale. Mas no alto planalto para o norte e leste de Congonhas até o limite do Curral Del Rey e das proximidades de Ouro Preto, não há registro nas primeiras crônicas da presença de indígenas, apesar de outras indicações de que eles transitassem ou estivessem por lá.

A identidade desses índios das proximidades de Queluz e Congonhas ainda é um mistério. Existem poucas pistas em referências esparsas, como a citação de Oilian José de que haviam índios chamados Guarachués na região centro-sul do quadrilátero, em Ouro Preto, Mariana e Guarapiranga (Piranga). Os outros registros falam nos Goianazes/Goitacazes/Cataguases e nos Carijós. Congonhas fazia parte da Vila Rica (Ouro Preto) e estava relativamente perto da região das nascentes de rios da bacia do Guarapiranga. Na parte mais alta (e fria) do que seria o conjunto das serras do oeste do quadrilátero, principalmente as Serras do Esmeril, Boa Morte e Moeda não foram encontrados registros coloniais da presença indígena, o que não significa que não estivessem alí, ao menos esporadicamente ou periodicamente.

No Redondo (Alto Maranhão), porém, houve problemas com indígenas. Eles parecem ter surgido do oeste e do sudeste, nos primeiros tempos, atacando (ou melhor, se defendendo) os primeiros roceiros.

Foram combatidos e desapareceram por algum tempo. Em 1738, índios atacaram e mataram o Tenente-coronel Amador de Souza, a mando de um tal “Antônio Francisco”, pretendendo matar outras pessoas em Congonhas, e “com objetivo especial de prender os carijós assassinos e desordeiros que andavam pondo em alvoroço a população de Congonhas, ordenou o Governador que se arregimentasse quantos carijós fosse possível.

Estudos acurados de documentos da época indicam que o termo ‘carijó’ era usado para designar populações já ‘mestiças’ e à margem da sociedade que se formava.

Não pode ser descartada a presença de outras etnias indígenas na região do Rio Paraopeba. Lamentou o próprio Eschwege, na segunda década do século XIX, o fato que um número indeterminado de índios Puris, vindos da região do rio Piranga, teriam sido “… assassinados nestas matas como animais selvagens pelos capitães-do-mato, não muito distante do arraial de Congonhas do Campo e Rio Paraopeba.

Também havia quilombos nas matas entre o Bação e a Serra do Capão D’Água, onde existia a Pedra da Vigia, que usavam para identificar a aproximação de tropas que viessem recaptura-los, assim como assaltar algum viajante desprevenido. Também existiam ao sudoeste, já que existe documento de lavra de José Antônio Freire de Andrade mandando, em 1741, que o sargento-mor João da Silva Ferreira “apenasse todos os capitães do mato, carijós, negros forros e mulatos que não tiverem ofício ou fazenda em que trabalhar para que compusessem”.

Garimpeiros

As primeiras explorações, as anteriores às grandes levas de aventureiros que vieram por causa das notícias dos descobertos oficiais, devem ter tido pouco impacto na paisagem, já que esse ‘garimpo inicial’ se deu prioritariamente nas areias nas margens dos córregos, sendo os conhecimentos dos mineradores práticos apenas o bastante para explorá-los sem muito critério técnico. Mesmo assim, segundo relatam as notícias iniciais, renderam grandes fortunas. Em Congonhas, essa lógica parece se encaixar perfeitamente.
Mesmo assim, bem cedo, Congonhas e seus arredores foram palco de atividade intensa de garimpeiros independentes: negros libertos, pardos, mamelucos e brancos formavam uma massa de pobres ou empobrecidos a quem o sonho do ouro era o único plausível. E o número de ‘desclassificados’ desse tipo eram especialmente propensos a negociarem e viverem relações interesseiras com os quilombolas. Isso explica a existência de quilombos tão próximos e em pontos que poriam em risco importantes rotas, como o que ia para a sede de Vila Rica.

Entre esses garimpeiros havia negros forros em quantidade e entre eles se vivia conforme os costumes caboclos, com a cultura africana em evidência. Por isso, em Congonhas eram comuns os curandeiros, como o negro Domingos Caldeireiro diversas vezes preso por ‘fazer curas com feitiçarias’, que permitia em sua casa ‘o ajuntamento de negros, danças e batuques’.

Alguns garimpeiros se tornaram ‘desclassificados’ na medida em que os que tiveram sucesso arregimentavam seguidores e apadrinhados, e outros, ficam a mercê da sorte. Também chegavam à região ‘emboabas’ – portugueses reinos – de famílias importantes que recebiam sesmarias e datas e as exploravam com maior número de escravos, por possuírem de antemão os cabedais necessários às grandes explorações. Formou-se, assim, uma elite mineradora nos centros auríferos, que, suspeita-se, foi mais reduzida em Congonhas. Aos menos privilegiados, muitas vezes sobravam os descobertos menos afamados, como podemos inferir por essa passagem sobre a direção tomada pelas primeiras levas de aventureiros, após notícias dos descobertos terem se estendido pelos domínios do Reino:

“E com a mesma bandeira vieram não só paulistas como também filhos de Portugal e do Rio de Janeiro, pela notícia que se espalhou do ouro que tinha descoberto. E, com efeito, chegada que foi a primeira bandeira ao tal ribeiro das Congonhas, nele ficou alguma gente e a mais entrou para este Ouro Preto, onde acharam ouro de mais conta…”

Assim, esses ‘desclassificados’ tinham poucas opções: mantinham-se à margem das grandes explorações, vivendo ao ‘Deus dará’, em meio às dificuldades do ambiente hostil; ou se colocar sob a proteção ou apadrinhamento dos ricos novos proprietários, como os Monteiros de Barros, cujo patriarca chegara à região em meados do século XVIII.

Os garimpeiros independentes tinham que ser mestres na arte da sobrevivência, e em contraste, as fazendas dos poderosos eram estruturadas para buscar autonomia pela divisão do trabalho, alocando seus escravos de modo mais racional, sendo vários deles especialistas capturados na África – ferreiros, mineradores, marceneiros, artesãos ou agricultores – e que produziam com sucesso tudo para a subsistência do grupo, sob a proteção do fazendeiro.

Não é improvável que entre a massa de mendigos a esmolar em Congonhas, sobretudo após a ereção do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, houvesse diversos desses garimpeiros em dificuldades e com acesso limitado a mantimentos, roças e ferramentas.

Ciganos

Na região próxima a Congonhas indícios acusaram grande número de ciganos no período colonial e, posteriormente, no período Monárquico, percorrendo de forma nômade o espaço delimitado pela área que se estendia dali aos povoados de Queluz e Ouro Branco.

Ficou registrado que os ciganos eram assíduos frequentadores das cadeias mineiras, e misturavam-se facilmente com outros ‘desclassificados’. Em um documento de 1755 foi registrado que andavam ‘vadiando e furtando bestas junto com mulatos, carijós e gente da terra’.

Na região de Congonhas as devassas mostraram casos curiosos, como o do roceiro Isidoro Coelho de Figueiredo, que mantinha reclusa uma cigana com quem era amasiado, sem deixa-la sair e por isso foi denunciado.

Também por ali´, em 1773, os ciganos tiraram ‘violentamente das mãos dos pedestres’ um rapaz impúbere que estava sendo levado preso por ter furtado um cavalo nas proximidades do Arraial de Congonhas. Dizia-se então que os ciganos recebiam cobertura do comandante da tropa de Ouro Branco, motivo pelo qual se sentiam seguros na região.

Em 1867, Richard Burton, o aventureiro inglês mais famoso de sua época, esteve em Congonhas, encontrando ciganos dormindo à beira da estrada nas proximidades da fazenda do Capitão Luiz Gonzaga, nos arredores do ribeirão Piquiri, em Redondo, atual Alto Maranhão.

Os ciganos eram grupos muito interessados em animais de carga e montaria, sendo sua posse um sinal distintivo entre eles. Assim, ficaram naturalmente atraídos pela região, incluindo o vale do Rio das Velhas, que possuía boas pastagens e muitos criadores de cavalos e asnos. Sabemos que Cachoeira da Campo, não muito longe de Congonhas, teve a primeira coudelaria de Minas, ou seja, um lugar destinado exclusivamente à reprodução de cavalos de montaria.

Segundo João Dornas Filho, havia, além dos cavalos de montaria, também intenso comércio de gado asinino em Congonhas, comércio importantíssimo para a manutenção da atividade de tropeirismo. O momento mais intenso desse comércio acontecia exatamente durante as romarias religiosas, e ficou registrado até mesmo um curioso caso popular de um cego baiano que, vindo esmolar no Jubileu – outra atividade intensa em Congonhas – ficara horrorizado com o mercantilismo dos romeiros e cantava uma canção nas escadarias do Santuário:

“Valha-me a Virgem Maria,

Que do céu olha para mim,

Valha-me as chagas divinas

Do meu Senhor do Bonfim;

Pois aqui nestas Congonhas

A fé sofre grande abalo,

O povo vende cavalo.

Vendem na porta da Igreja

Com grande contentamento,

Burros de carga e passeio,

Cavalo, besta e jumento;

Aqui só padre é quem reza. O mais é cavalaria;

Valha-me Nossa Senhora,

Que eu volto já pra Bahia…”

Movimentos migratórios nas Minas Coloniais e seu impacto nas Congonhas

Por volta da década de 1740 já se percebia algo de errado nas minerações de variados locais do centro de Minas. Os trabalhos

Referências bibliográficas:

BARBOSA, Waldemar de Almeida, Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte – Itatiaia, 1995.

JÚNIOR, Augusto de Lima. A capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte – Itatiaia, 1978.

FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. Belo Horizonte – Itatiaia, 1989

ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. Belo Horizonte/Rio de Janeiro – Itatiaia, 1997.

CÓDICE Costa Matoso. Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas da América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso. Belo Horizonte – Fundação João Pinheiro, 1999.

RENGER, Frederich E. Primórdios da cartografia das Minas Gerais (1585 – 1735), As Minas Setecentistas. Belo Horizonte, 2007

VENÂNCIO, Renato Pinto. Os últimos Carijós: Escravidão indígena em Minas Gerais: 1711 – 1725. São Paulo, 1997.

SILVEIRA,

ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Volume I . Belo Horizonte, Itatiaia – 1979.

SOUZA, Laura de Mello e. Os desclassificados do ouro: A pobreza mineira no século XVIII. 4ª edição, Rio de Janeiro, Editora Graal, 2004

BURTON, Richard Francis, Viagens do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976.

Arquivo Público Mineiro

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Antônio Rodrigues de Arzão (? — 1730) foi um sertanista brasileiro nascido em Taubaté, filho do capitão Manuel Rodrigues Arzão (morto em 1700) e de Maria Afonso ou Afonso de Azevedo; bisneto paterno de Cornélio de Arzão e de Elvira Rodrigues; bisneto materno de João Peres Calhamares e de Margarida Fernandes. Teve dois tios igualmente importantes sertanistas.[1]

Era o cabo de bandeira escravagista que teria, em 1693 (a data se ignora, especula-se que foi a partir de 1690) achado ouro na casa da Casca, assim chamada, não deu importância ao achado, pois nunca cogitou em pedir ao rei qualquer proveito. Sertanista dos antigos, penetrou o sertão à cata de esmeraldas, em demanda do Itaverava com mais ou menos 50 homens entre os quais se achava seu cunhado José Gonçalves de Carvalho, casado com Catarina de Camargo, filha de Fernando Ortiz de Camargo o Moço. Assim chegou aos sertões da Casca ou distrito do Cuieté (ou Caeté, “mato bravo”) a cinco léguas do rio Doce- e, guiado por uma índia, descobriu cascalhos de ouro – ou, dizem, teria achado no córrego onde lavavam os pratos.

No Itaverava, tivera as mesmas dúvidas que Vicente Lopes, decidindo prosseguir – e foi ter à serra do Guarapiranga, de onde pela manhã avistou os pincaros agudos da serra dos Arrepiados por efeito da luz parecendo mais próximos; descendo nessa direção encontrou o rio Piranga, em seu melhor braço, aurífero, e índios da nação puri que lhe falaram de um manacial melhor, o do rio Casca, originario da cordilheira. No ramo superior desta, chamado hoje serra do Brigadeiro, havia o pico chamado Pedra Menina que tem parecença com o Itacolumi, por isso se enganou. Sua comitiva teria morrido de febres, os índios não o quiseram acompanhar,ou temendo os conquistadores no vale do Sipotaua (Xopotó, «cipó amarelo») e só queriam aceitar segui-lo para o Espírito Santo, muito mais perto do que Taubaté.

E assim foi. No Casca, o sertanista enchera os alforges destes ouros, do que ofereceu três oitavas ao Capitão-Mor regente João Velasco de Molina, que delas fez três moedas) e à câmara de Vitória, onde chegou descendo o rio Doce. As oitavas apresentadas foram as primeiras de que se acha relação dos registros de São Paulo. Com o fracasso da bandeira, teria desertado Duarte Nunes, o descobridor do ouro preto? O fato é que voltou ao Rio e Santos e de lá a São Paulo.

Diz Silva Leme em sua «Genealogia Paulistana» volume 1 pág. 193 (Tit. Camargos): «Foi Rodrigues de Arzão um destemido bandeirante, e o primeiro que descobriu ouro em Minas Gerais; faleceu em 1696, deixando o roteiro de suas descobertas a seu concunhado Bartolomeu Bueno de Siqueira, que, nesse mesmo ano, se embrenhou nos sertões em busca desse metal, e consultando o dito roteiro, foi ter a Itaberaba (pedra brilhante) onde, em distância de oito léguas, fundou a povoação de Ouro Preto e outras vizinhas.

Seguindo os caminhos abertos por Fernão Dias (1674-1681), teria descoberto a primeira jazida de ouro nos sertões das Minas Gerais em 1692 ou 1693. Deve ter partido para os sertões de Caeté em 1687 com uns 50 homens, encontrou as minas do rio Doce, das que deixou roteiro a seu cunhado Bartolomeu Bueno de Siqueira. Diz um historiador: « Antônio Rodrigues Arzão por 1692 andou com cinqüenta companheiros pela bacia do rio Doce. Encontrou , no rio da Casca, areias auríferas; encheu os alforges; e descendo o rio Doce chegou ao Espírito Santo, a cujo capitão-mor comunicou o descobrimento. O roteiro, deu-a ao concunhado, Bartolomeu Bueno de Siqueira, também paulista, que se pôs em campo – em 1694 – através das regiões de Congonhas e Suaçui.»

O historiador mineiro Diogo de Vasconcelos detalha a viagem de Arzão que, após breve estada em Itaverava, alcançou a Serra do Guarapiranga de onde, pela manhã, avistou os píncaros agudos da serra de Arrepiados. Afirma que, em razão da luz oriental, supôs mais próxima a serra. Seguindo, então, em sua direção, encontrou o rio Piranga.

Há várias versões sobre quem descobriu o ouro das Minas Gerais. Prevalece, geralmente, aquela que atribui à bandeira de Antônio Rodrigues Arzão a descoberta dos cascalhos auríferos nos sertões do rio Casca, por volta de 1693.

Arzão morreu logo após regressar a Taubaté deixando ao cunhado os dados necessários a futuras expedições. Não teria aceitado auxílios oficiais em Vitória, talvez por se sentir cansado e doente, e cometeu a Bartolomeu Bueno de Siqueira, seu cunhado e nacional de São Paulo, a continuação de seu descoberto. É, pelo menos, a versão oficial. E se especulou, na época, que teria achado muito mais do que as três oitavas.

Em meados de 1694 Bartolomeu Bueno e Carlos Pedroso da Silveira, este último companheiro de Arzão, descobriram ouro na serra de Itaverava e remeteram amostras para o Rio de Janeiro.

Com referência à «Casa da Casca», citada por Arzão e companheiros, querem alguns autores que se localizava nas imediações do Cuité, enquanto outros apontam a região onde hoje se encontra a cidade de Abre Campo, em Minas Gerais. Entretanto, o historiador Salomão de Vasconcelos diz que a localização exata da Casa da Casca é nas fraldas da Serra dos Arrepiados, em Araponga.

Em 30 de janeiro de 1701, D. Pedro II de Portugal enviou-lhe uma Carta Régia de Salvaterra em que ordena que, se seu velho pai Manuel Rodrigues Arzão já estivesse falecido, ficasse ele encarregado da escolha da data mineral real e por conta da respectiva fazenda a mandasse lavrar. Mas Arzão não desempenhou a incumbência, desapareceu até 1717.

A outra versão

Historiadores há que dizem que estava vivo em 1728! Carvalho Franco, no «Dicionário dos Bandeirantes e Sertanistas do Brasil», demonstra que não morreu ao regressar da Casa da Casca, viveu até 1730 exercendo funções publicas em São Paulo, que era cristão novo de origem flamenga e que sua numerosa família estava muito ligada aos Buenos e demais bandeirantes de São Paulo.

Esse ouro é considerado por diversos cronistas o primeiro que se achou em território mineiro, sendo provável que 12 anos antes Borba Gato e os seus (outros dizem 20 anos antes) já tivessem colhido algumas amostras às margens do rio das Velhas.

O que é incontestável é que abriu caminho e a ele se seguirão em breve Carlos Pedroso da Silveira, Bartolomeu Bueno de Siqueira, Salvador Fernandes Furtado de Mendonça, Manoel Garcia Velho, Domingos do Prado, Antônio Dias Taubateano, o padre João de Faria Fialho, Tomás Lopes de Camargo, Francisco Bueno da Silva, João Lopes de Lima, Leonardo Nardes, «em mais tantos itinerários distintos mmas com idêntica ambição e fortaleza, alguns lançando na nova terra da promissão os fundamentos de numerosos e vastos arraiais.»

Casamento e posteridade

Era casado com Mariana de Camargo (morta em 1715) da importante família dos Camargos, filha de Joana Lopes e de Fernando Ortiz de Camargo o Moço, portanto neta de Fernando de Camargo, o Tigre. Tiveram quatro filhos. Não há referências à vida deles.

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