25 de abril de 2024 15:00

Cidades históricas de Minas Gerais: Ouro, patrimônio e turismo

Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rei, Congonhas… quando pensamos em cidades históricas de Minas Gerais, logo lembramos desses lugares de arquitetura barroca e que revelam parte do que já foi o Brasil.

A verdade é que toda cidade tem sua história, mas essas, em especial, guardam peças importantes do patrimônio material e imaterial mundial e brasileiro, além de serem fortes atrativos turísticos para Minas Gerais.

Segundo o historiador do Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), Luis Molini, quando falamos das chamadas “cidades históricas” estamos nos referindo aos centros urbanos formados a partir do ano de 1700.

Dessa forma, Ouro Preto, São João Del Rei, Mariana e tantas outras são parte do processo de formação do estado de Minas Gerais, lá nos séculos XVII e XVIII.

Ciclo do Ouro e escravidão: o princípio

A busca por riquezas, como ouro, prata e diamantes, e o aprisionamento de índios para escravização foram as principais motivações para que os territórios que hoje conhecemos como as cidades históricas de Minas Gerais fossem apropriados.

Os exploradores do Rio de Janeiro, São Paulo e do nordeste começaram a utilizar os caminhos feitos previamente pelos índios até chegarem às cidades que continham minério. Nesse movimento, o gado e o plantio iniciaram como forma de provisão para essas pessoas que desciam para cá.

“Essa dinâmica de entrar no território, fazer uma roça, parar ali um tempo, pegar provisão e depois continuar, vai marcando uma territorialidade. Criam-se ali núcleos urbanos e também no lugar onde você encontra o minério, que é o ponto onde se deram as explosões urbanas”.

Nessa dinâmica, algumas cidades cresceram com foco na exploração do minério, como Ouro Preto, Mariana e Sabará, e outras, como São João Del Rei e Tiradentes, se desenvolveram para abastecer os centros urbanos. Nesses locais o principal foco era a criação de gado e a lavoura.

Turismo nas cidades históricas

As chamadas cidades históricas são bastante conhecidas pelo turismo, porém, esses lugares não nasceram turísticos. O processo de preservação desses locais começou só no século XX, com a ideia de constitução do patrimônio cultural brasileiro.

“A partir da preservação dessas cidades há o que nós chamamos de um processo de conhecimento e de exploração delas por parte da sociedade como um todo. Então as pessoas passam a querer visitar esses espaços, e passa a acontecer uma exploração turística desses lugares”.

Anteriormente a esse processo, há o declínio da exploração dos minérios nas cidades mineiras, no final do século XVIII. Consequentemente, muitas pessoas que moravam nos locais de exploração começaram a deixar esses lugares.

Nesse momento, as regiões abastecedoras ganharam destaque se tornando grandes fazendas de produção de queijo, cachaça, farinha, fubá, entre outros alimentos.

Cidades históricas de Minas Gerais

Patrimônio cultural brasileiro e mundial, as cidades históricas de Minas Gerais são grandes cartões–postais do nosso estado. Elas guardam a memória da exploração do território, dos povos originários e dos negros, e da construção da identidade mineira como conhecemos hoje.

Hoje, Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Sabará e tantas outras cidades históricas de Minas Gerais transmitem acolhimento em cada cantinho. Gastronomia e história são os carros-chefe desses lugares. Abaixo, confira quais são os principais atrativos turísticos das cidades fundadoras do estado mineiro.

Ouro Preto

Localizada em meio às montanhas de minas, Ouro Preto foi declarada Monumento Nacional, em 1933. A cidade histórica teve como primeiro nome “Vila Rica”, além de ter sido capital da Província das Minas Gerais, criada pela Coroa Portuguesa para administrar aquela região.

Ouro Preto guarda inúmeros movimentos importantes para a cultura brasileira, sendo um dos principais a Inconfidência Mineira, em 1789. Construções do século XVIII feitas de pau–a–pique e adobe compõem os becos e ladeiras da cidade.

O barroco mineiro trabalhado pelo escultor Aleijadinho e pelo pintor Mestre Athaíde são a principal identidade das casas, edifícios e igrejas. Praça Tiradentes, Escola de Minas, Museu da Inconfidência, Casa dos Contos e Igreja de São Francisco de Assis são os principais pontos turísticos.

‘Cidade mais emblemática de todas’

“Ouro Preto é, talvez, a cidade mais emblemática de todas em relação ao que tem como patrimônio cultural. Ela é a primeira cidade preservada do Brasil, todo o seu centro histórico. Então o visitante de Ouro Preto tem uma noção de como era a vivência naqueles anos”, afirma Luis.

Dentre os bens da cidade, o historiador destaca a Igreja de São Francisco de Assis, cuja construção foi finalizada no final do século XVIII, com estilo barroco e elementos de rococó pelo Mestre Ataíde.

Outro lugar que Luis Molini destaca é o Colégio Dom Bosco, antigo Quartel da Cavalaria. A celebração da Semana Santa, com tapetes de serragem feitos pelas ruas da cidade, e o doce de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, são outros atrativos importantes da região.

Igreja de São Francisco de Assis (Reprodução/Ane Souz)

Anota aí:

Igreja de São Francisco de Assis: Bairro de Antônio Dias, Ouro Preto. Visitação: Terça-feira a domingo, de 8h30 às 12h, e de 13h30 às 17h | Sábado, às 19h30 | Missas: Domingos, às 19h
Entrada: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

Colégio Dom Bosco: Rodovia dos Inconfidentes, BR-356 – Cachoeira do Campo

Mariana

Fundada para ser capital da capitania de Minas Gerais, Mariana exerceu, por muito tempo, o papel de sede do governo do estado, segundo o historiador Luis Molini. O local, que se chamava Vila do Carmo, foi elevado ao nível de cidade e renomeado em homenagem à rainha Maria, em Portugal.

Mariana transformou-se no centro religioso de Minas Gerais durante o período colônia. Ela foi a primeira cidade planejada do estado e uma das primeiras do Brasil. O local preserva os casarios coloniais daquele período, além de ser berço do pintor sacro Manuel da Costa Ataíde.

Mariana atrações turísticas

Dá para sair de Ouro Preto e visitar Mariana em um mesmo passeio, pois a distância entre as duas cidades é de apenas 14 quilômetros. A Estação Ferroviária de Mariana, a Praça Claudio Manuel e o Museu de Arte Sacra de Mariana são alguns dos atrativos dessa cidade histórica.

Atrações naturais também são o forte de Mariana, como as cachoeiras do Brumado, da Serrinha, do Cristal e da Prainha. Os arredores da cidade abrigam grutas e cavernas naturais, além de uma montanha para paraquedismo, o Pico da Cartuxa.

“Indico conhecer a cidade toda, ela é importantíssima, mas eu destacaria a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, fica bem no Centro da cidade e tem uma imponência muito grande. É uma construção muito, mas muito bonita mesmo, feita na segunda metade do século XVIII”, diz Luis.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo e Igreja de São Francisco de Assis, em Mariana (Reprodução/Agência Minas)

Anota aí:

Igreja de Nossa Senhora do Carmo: Praça de São Francisco, Mariana. Funcionamento: Terça-feira a domingo: 9h às 12h e 13h30 às 17h
Entrada gratuita

Tiradentes

Fundada por volta de 1702, Tiradentes foi o arraial Santo Antônio do Rio das Mortes, Arraial Velho, vila São José e, em 1860, passou para a categoria de cidade. Em 1889, com a proclamação da república, o local recebeu o nome de Tiradentes, em homenagem ao heroi da inconfidência.

Em 1938, o Sphan (Serviço do patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tombou o conjunto arquitetônico de Tiradentes. Construções como o Sobrado Ramalho, o Sobrado dos Aimorés Futebol Clube e o prédio da prefeitura mantém a arquitetura civil do século XVIII.

O que fazer em Tiradentes?

“Tiradentes, além de ter o Centro todo preservado, a Igreja Matriz de Santo Antônio é uma coisa muito importante e muito bonita que eu destaco de lá”, aponta o historiador. “A própria Serra de São José que está junto ali e que também é muito importante”, adiciona.

Gastronomia, monumentos, artesanato, casario, atrativos naturais, passeio de Maria Fumaça e o Festival de Cinema de Tiradentes são os grandes pontos fortes dessa cidade histórica de Minas Gerais. Caminhadas e cachoeiras aguardam os turistas na Serra de São José.

Conjunto urbano tombado e Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes (Reprodução/Iphan)

Anota aí:

Igreja Matriz de Santo Antônio: Rua Padre Toledo, 2 – Centro. Funcionamento: Todos os dias, 9h às 17h
Entrada gratuita

Serra de São José: Antiga estrada Tiradentes, Santa Cruz de Minas

Diamantina

Fundada há mais de três séculos, Diamantina também é uma das cidades históricas de Minas Gerais que nasceu como um pequeno arraial até se urbanizar e crescer. Como o nome sugere, o local foi fonte de exploração de diamantes, além do ouro.

Em 1938, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,) tombou o conjunto arquitetônico do Centro Histórico da cidade. Ao final da década de 1990, Diamantina recebeu da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

O que visitar em Diamantina

“Eu separo ali o Passadiço da Glória, é uma estrutura azul que liga uma casa a outra na cidade, é bem característica. Fica sobre a rua e liga uma residência a outra residência. É um passadiço muito interessante e atrai muitos visitantes”, destaca Luis sobre os pontos que valem à pena serem visitados em Diamantina.

Outro patrimônio imaterial que o historiador destaca nessa cidade histórica de Minas Gerais é o ofício de Apanhador de Sempre–Vivas. As flores colhidas são comercializadas no Mercado Municipal (Mercado Velho), no Centro histórico de Diamantina.

Museus, cachoeiras, casas, edifícios e igrejas históricas com clima de interior são os elementos que compõem Diamantina. O Centro Histórico de Diamantina, a Igreja São Francisco de Assis e o Beco da Tecla são os pontos turísticos mais imperdíveis da cidade.

Vila Operária do Biribiri

“Ainda acho que é fundamental, fora do centro urbano, dar um pulinho em Biribiri, fica mais ou menos a uns 15 quilômetros de Diamantina”, indica Luis. A vila foi sede de uma fábrica de tecidos, que funcionou entre 1877 e 1973.

“Lá tem igreja, cachoeiras, é um passeio muito bacana de se fazer e vai trazer uma história dos primeiros momentos de industrializaçao, ainda no século XIX, de fábricas de tecido”, acrescenta o historiador do Iepha.

Vista de Diamantina com Igreja de São Francisco de Assis em destaque (Reprodução/Iphan)

Anota aí:

Passadiço da Glória: Rua da Glória, 297/298, Centro – Diamantina. Visitação: Todos os dias, de 8h às 17h30.
Entrada gratuita

Mercado Velho: Praça Barão do Guaicuí, 171, Diamantina. Funcionamento: Sextas-feiras à noite para venda de pratos típicos | Sábados de manhã para feira

Serro

Habitada por volta de 1700, Serro, cidade histórica de Minas Gerais, foi inicialmente explorada pela disposição de ouro e diamantes. De Grande Serro do Frio, o local passou a ser chamado de Arraial das Lavras Velhas do Hivituruí, depois, de Vila do Príncipe e, atualmente, só Serro.

A cidade abriga rios, riachos e cachoeiras, tendo como destaque o Rio Jequitinhonha. Serro tem um patrimônio histórico que reflete a religião predominante na cidade: o catolicismo. Igrejas, capelas e casarões dos séculos XVII e XVIII são o plano de fundo do local.

“A cidade do Serro tem todo o seu casario monumental muito bonito, muito bem preservado, igrejas, casas, ruas, mas eu destaco o que talvez seja mais emblemático, que é o modo de fazer o Queijo do Serro, que é patrimônio imaterial de Minas e Cultural do Brasil”, afirma Luis.

Anualmente, a cidade celebra a “Festa do Queijo” para comemorar o Queijo do Serro, sempre na última semana de setembro. Ainda em homenagem à iguaria, a cidade tem o Salão do Queijo – Centro de Atendimento ao Turista, no Centro de Serro. O espaço fica aberto à visitação.

Onde comprar Queijo do Serro em Serro?

Trem– Ruá – Grife do Queijo: Loja cave de afinação de queijos.
Endereço: Rua São José, 422A – Serro

Cooper Serro: Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro
Endereço: Praça Angelo Miranda, 26 – Centro, Serro

Vista panorâmica de Serro, cidade histórica de Minas Gerais (Reprodução/Iphan)

Sabará

A região metropolitana de BH guarda uma das cidades históricas mais importantes de Minas Gerais: Sabará. O local foi centro comercial importante da Estrada Real, lá por 1700, e contribuiu financeiramente com a luta pela independência, em 1822, e participou do Ciclo do Ferro.

O Centro Histórico de Sabará tem igrejas do século XVIII, Teatro Municipal (segundo mais antigo do Brasil), Museu do Ouro, chafarizes e um casario da arquitetura colonial. A cidade é conhecida como Terra da Jabuticada e do Ora–Pro–Nobis, planta comestível típica mineira.

“Todo o Centro de Sabará é protegido, mas eu destacaria a Igrejinha de Nossa Senhora do Ó, que é uma igrejinha bem pequeninha feita lá em 1717, toda revestido em ouro. É uma coisa bem legítima e muito bonita, e está a meia hora de Belo Horizonte”, diz o historiador Luis.

Segundo Luis Molini, a cidade tem bons restaurantes para apreciar a culinária mineira, e também o Festival da Jabuticaba, que acontece anualmente para celebrar o fruto. Para saber quando será a próxima edição, fique de olho no site oficial do evento.

Anota aí:

Capela de Nossa Senhora do Ó: Largo do O – Nossa Sra. do O. Visitação: quinta-feira a domingo, de 8h às 17h.
Entrada: R$ 5

Capela de Nossa Senhora do Ó, em Sabará (Reprodução/Hebert Gerson Soares Júnior)

São João del Rei

“São João del Rei é uma das cidades mais bonitas para mim em termos de preservação e em termos de junção, porque muitas vezes as pessoas falam ‘e aí, cadê o morador?’, e não tá ali naquela cidade. E São João del Rei é uma cidade que consegue conciliar isso muito bem”, ressalta Luis.

“Ela tem todo o seu patrimônio cultural e histórico preservado mas é uma cidade viva, que tem essa dinâmica de se ter turista e também sua população local”, completa o historiador do Iepha.

Fruto de disputas e local de passagem para embarcações no período da colonização, São João del Rei foi vila, em 1713, e logo depois foi elevada à categoria de cidade. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), outras fontes apontam que o município foi desmembrado de Ouro Preto.

O que fazer em São João del Rei

Fato é que essa cidade histórica de Minas Gerais atrai, hoje, dezenas de turistas curiosos para conhecer sua arquitetura barroca, centenas de igrejas, o Memorial do Presidente Tancredo Neves, museus, cultura nas ruas, a Estação Ferroviária com passeio de Maria Fumaça e muito mais.

“Lá, destaco a Igrejinha de São Francisco de Assis, que fica bem no Centro, e é uma igreja monumental. Acho que vale à pena conhecer a própria estrutura do Centro e as pontes que têm”, acrescenta Luis Molini.

Anota aí:

Igreja de São Francisco de Assis: Praça Frei Orlando, 150 – Centro (entrada pelo portão lateral). Visitação: Segunda–feira a sábado: 9h às 17h | Domingo: 8h às 14h30
Entrada: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (estudante ou acima de 60 anos)

Conjunto arquitetônico e urbanístico de São João del Rei, cidade histórica de Minas Gerais (Reprodução/Iphan)

Congonhas

E por último na lista de cidades históricas de Minas Gerais, mas não menos importante, Congonhas abriga um dos mais importante acervos arquiteônicos e artísticos da arte civil e religiosa do estado mineiro, de acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O nome da cidade vem da planta congonha, presente nos campos do local, e da palavra Congõi, de etimologia tupi–guarani, que significa “que sustenta, o que alimenta”. Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Passos da Paixão e os Profetas executados por Aleijadinho são os destaques do município.

Congonhas: pontos turísticos

“Em Congonhas, destaco o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, eu acho que é o mais clássico. Tem aquelas estátuas do Aleijadinho em praça pública ao redor da igreja, acho que talvez seja o monumento mais conhecido que também merece ser visitado”, afirma Luis.

O historiador também destaca outros patrimônios para serem visitados, como o Centro Cultural da Romaria, que faz parte do complexo Bom Jesus do Matosinhos, e a Capela de Nossa Senhora da Soledade, que fica em Lobo Leite, distrito de Congonhas.

“Para a pessoa que quer explorar e conhecer o turismo, se ela se embrenhar pela cidade vão ter várias igrejas, capelinhas, várias pérolas que valem muito à pena conhecer”, indica Luis Molini.

Anota aí:

Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos: Praça do Santuário, S/n – Centro. Visitação: Terça-feira a domingo, de 6h às 18h | Segunda-feira pela manhã
Entrada gratuita

FONTE DE BHAZ

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