20 de abril de 2024 00:28

Garimpando – Uma rua encantada verdadeiramente encantada – 8

                                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                      avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Um gavião-rei cortou os ares, majestoso. A viagem tinha seus

incômodos, mas, também, suas belezas.

OITAVA PARTE

O homem abraçou Francisca e depois lhe disse, muito carinhosamente:

            – Sinhazinha, se quiser que Deus dê a vosmecê essa graça, não deixe nem um pedacinho de ódio em seu coração. Só de vosmecê estar fazendo tanto sacrifício pelo Coronel já é uma luz que vai levar aos dois.

            Aquelas palavras agiram como um bálsamo no coração de Francisca e lhe deram força. Não importava que as pernas doessem, os pés se ferissem, o coração palpitasse, o sol queimasse na cabeça… Depois que achasse o curandeiro para o pai, iria lançar-se ao mundo para descobrir o paradeiro de seus dois entes amados. Uma expressão determinada iluminou o rosto de Francisca:

            – Um dia vou achar meu filho e Moisés.

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            Em mais uma noite de insônia, o Coronel Bento levantou-se e foi até o oratório da falecida Cândida.

            Olhou as imagens durante um bom tempo. Tentou visualizar o rosto da mulher para pedir-lhe perdão. Os sofrimentos dos últimos tempos ensinaram muita coisa ao velho fazendeiro.

            – Perdão, D. Cândida! Eu não fui o marido que vosmecê merecia. Sei que está no céu. Pede a Deus, Nosso Senhor, que proteja a nossa filha, que saiu pelo mundo procurando cura para o sofrimento de um homem como eu, que tanto fiz a menina sofrer!

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            Quando chegaram na estrada, Teodoro e Francisca se horrorizaram. Ninguém havia passado ali ou, se tivesse passado, fora embora sem fazer nada.

            Todos os tropeiros estavam mortos e também o escravo do Coronel, que dirigia a carruagem. Esta estava virada e toda destruída. Os cavalos, uns morreram e os outros deviam ter fugido. Por sorte, havia dois comendo o capim da beirada da estrada e eles se apoderaram deles para prosseguiram a viagem.

            Mais adiante, encontraram um rancho onde puderam passar a noite.

            No rancho também havia passado a noite uma tropa que ia sair na manhã seguinte e eles resolveram continuar viagem com ela.

            E assim o fizeram.

            A manhã chegou fresquinha e luminosa. Mas, dentro em pouco, a canícula iria castigar os viajantes.

Imagem da Internet

            Ainda faltava um bom trecho de viagem. Mesmo lembrando-se do que acontecera com a tropa que acompanhavam nos dias anteriores, Teodoro ainda achou mais prudente juntar-se àquela tropa que estava saindo do rancho. Perigo por perigo, era preferível irem em companhia.

            Francisca se distraía observando a tropa, enquanto viajavam sob um sol inclemente.

            Na frente seguia o “burro de guia”. Seu peitoral tinha seis cincerros e pisteira de prata adornava a parte da frente da sua cabeça. Tinha o privilégio de carregar menos peso e marcava a viagem, pois conhecia os caminhos.

            A tropa era grande. Havia seções de quatro cavalos cada uma. Levavam bruacas (pequenos sacos de couro cru) carregadas de sal e muitos fardos de diversas mercadorias.

            Percorreram um trecho grande em que só encontravam, de longe em longe, taperas, algum rancho de paredes de pau-bambu, coberto com folhas de palmito; num ou noutro lugar, lá em baixo, no campo, havia uma fazenda. Passaram rios, ribeirões, viram elevadas quedas d’água que ostentavam um líquido cristalino brilhando ao sol.

            Teodoro se encantava com a vegetação daquelas terras: perobas, jacarandás, sucupiras, aroeiras, angicos, cedros, braúnas… Ou se divertia vendo os animais que encontravam quando passavam entre matas mais fechadas: capivaras, coatis, pacas, queixadas, tamanduá.

            Um gavião-rei cortou os ares, majestoso. A viagem tinha seus incômodos, mas, também, suas belezas.

            O chefe ia a cavalo, na frente, rodeado pelos ajudantes, armados de espadas, usando compridas botas castanhas de couro e com um chapéu de feltro cinzento claro.

            A viagem prosseguia sem tropeços. De vez em quando Francisca tinha crises de desespero, que conseguia ocultar. Pensava no filho e em Moisés, soltos pelo mundo… Que estaria acontecendo com eles? Mas seguia o conselho de Teodoro e isso ajudava bem. O capataz contara para ela que um sacerdote, passando na fazenda quando em visitas pastorais, vendo o seu sofrimento, ensinara algo muito importante: não deixasse que pensamentos tristes dominassem o seu pensamento, porque isso poderia influenciar nos acontecimentos e trazer mais tristeza. Assim, começava a prestar atenção na paisagem, envolver-se toda em sua beleza. Isso ajudava a superar a dor.

                                                                                 (Continua)

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