18 de abril de 2024 15:49

Garimpando- Mais uma rua de alma encantadora – 2

Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                                                  avelinaconselheirolafaiete@gmail,com

 

A vida, imensa tortura,

Breviário de amargura,

Que eu transponho a chorar,

Tem sabor de veneno.

Dissabores que eu condeno,

Mas tem o céu, tem o mar…

Não adianta descrever a Rua Coronel João Gomes passando os olhos pela rua como é atualmente. Não adianta enxergar, de olhos bem abertos, esta rua moderna e cheia de movimento. Esta alma é a da realidade, importante, progressista. Mas a alma encantadora de qualquer rua vem do passado, a que permanece intata com o passar dos tempos. É preciso fechar os olhos ao explícito, que se nos apresenta claramente, sem dúvidas ou ambiguidade.  É preciso serrar as pálpebras e entrar no mundo das lembranças, que muitas vezes podem até nos enganar devido ao tempo transcorrido, vindo envoltas nas brumas do passado, mas que chegam belas e saudosas. É aí que vamos encontrar a alma encantadora da Rua Coronel João Gomes.

Embora não tenha conhecido pessoalmente a Capela da Piedade, como a enxerguei tão próxima através dos relatos dos antigos e da linda pintura de Áurea Cabanella…

Mas agora vem  o que conheci, desde menina. Em frente ao lugar onde se erguia a Capela, havia uma casa de frente muito extensa, de gente muito inteligente e culta: a casa do Dr. Astor, uma das mais ilustres figuras do século XX em nossa terra. Embora tenha nascido na cidade mineira de Pedro Leopoldo, as últimas décadas de sua vida decorreram aqui. Dr. Astor Vianna era filho de Sócrates C. Vianna e de Cefisa Pereira Vianna. Cursou a Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais. Foi o orador da turma quando se formou. Concluído o Curso de Direito, mudou-se para nossa cidade, a qual enriqueceu com a força de sua cultura e de seu trabalho. Aqui viveu até o fim de seus dias, em  janeiro de 1973. Assim mereceu muito bem  ser contemplado com o título de Cidadão Honorário de Conselheiro Lafaiete.

Entre tantas outras atividades, dedicou sua vida, de um  modo muito especial, ao Ensino. Foi diretor do antigo Colégio “Monsenhor Horta” e, também  nesse educandário,  professor de Português e Espanhol. Os alunos tinham muita admiração e carinho por ele e, anos e anos depois de formados, lembravam-se de seus ensinamentos com admiração e saudade. Lecionou também em Barbacena, na EPCAR. Participou ativamente na fundação da Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete.

Jornalista combativo, disseminador de conhecimentos nos seus artigos escritos em estilo de grande beleza, levava os leitores ao convívio com a linguagem escorreita, concisa e elegante, era orador de elevada eloquência e conferencista brilhante. Também se destacou na Política, sendo vereador em vários mandatos. Um ser humano de tal quilate é claro que marcaria fortemente sua passagem naquele logradouro.

E poeta, que poeta! Impossível não dar uma amostra de seu estro iluminado. Quando organizei a antologia “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, em 1991, quem fez o prefácio foi o ilustre e grandioso homem de Letras, Dr. Vivaldi Moreira, na época presidente da Academia Mineira de Letras, que apreciou  imensamente um poema de Dr. Astor, obra tão bonita que não posso deixar de partilhar com os leitores. Comprovem:

VIDA

  A vida, imensa tortura,

  Breviário de amargura,

 Que eu transponho a chorar,

   Tem sabor de veneno.

Dissabores que eu condeno,

 Mas tem o céu, tem o mar…

A vida, que duro açoite,

Tem o frio, a dor, a noite,

Que eu sofro sem me queixar…

Mas, onde quer que eu esteja,

Faço da dor uma Igreja,

E entro nela pra rezar!

                                                                                     (Continua)

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