20 de abril de 2024 07:21

De Senhora de Oliveira para o mundo: Mineira cria pele artificial em busca do rejuvenescedor perfeito

Ao completar 30 anos, Carolina Reis, ex-aluna da UFV (Universidade de Viçosa), resolveu embarcar para os Estados Unidos para criar a startup de biotecnologia Oneskin. A empreendedora tinha desenvolvido uma pele humana em laboratório e buscava uma aplicação prática. A empresa agora pretende desenvolver o creme rejuvenescedor “perfeito”. E ela garante que eles têm tecnologia para isso.

Atualmente, a startup trabalha para comparar os efeitos do retinol, um dos principais ingredientes usados em cosméticos antienvelhecimento, com o de um produto desenvolvido pela startup. A empresa também pesquisa novos compostos relacionados ao envelhecimento.

Mas Carolina ressalta que a Oneskin não surgiu para vender cremes. A ideia inicial da startup, forjada no processo de aceleração da IndieBio (maior aceleradora de biotecnologia do mundo), era desenvolver uma pele que fosse uma plataforma para testar a eficácia dos produtos cosméticos relacionados ao envelhecimento.

Alessandra Zonari, Carolina Reis e Andrés Ochoa, da Oneskin/Divulgação

“A gente foi para a IndieBio com a proposta de reconstruir a pele humana em laboratório para substituir testes em animais. Mas quando chegamos nos Estados Unidos vimos que isso não era uma demanda do mercado. O que faltava em cosméticos era uma validação da eficácia dos produtos antienvelhecimento”, explica.

A empresa consegue medir a idade da pele com um teste de sequenciamento de DNA. Assim, é possível mensurar se um creme é eficaz , tornando o tecido “mais jovem” ou apenas faz marketing.

De acordo com  empresa, toda a tecnologia utilizada na produção da pele tem sido aproveitada no desenvolvimento dos cremes. Carolin afirma que eles conseguem entender mais sobre envelhecimento, genes, “e isso nos dá muitos insights de como interromper o envelhecimento”.

Além disso, a Oneskin também desenvolveu uma pele envelhecida, que permite testes com várias faixas de idade. A empreendedora explica que ao utilizar peles de diferentes idades, é possível encontrar compostos que funcionem melhor para cada faixa etária. E pensar em produtos segmentados.

Empreender em biotecnologia no Brasil

Nascida na Zona da Mata mineira, na pequena Senhora de Oliveira, uma cidade de seis mil habitantes, Carolina Reis se formou em Bioquímica, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), e fez mestrado e doutorado na mesma área, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo a bioquímica, sua ideia nunca foi sair do Brasil, mas ao cursar o último ano do doutorado, em 2014, começou a peregrinar por eventos de inovação e notou que faltava um pouco de tudo: a economia estava em crise, não havia mentoria nem mercado para absorver produtos de biotecnologia e o investimento era baixo.

A aceleração na IndieLab, no primeiro semestre de 2016, foi como correr uma maratona dando tiros de 100 metros. “Foram quatro meses com reuniões de segunda a sexta-feira, conversas com potenciais investidores, clientes, e muita pressão dos mentores”, relembra.

No início de 2017, a Oneskin recebeu um financiamento semente de um fundo de venture capital. A empresa não revela o valor, mas afirma que foi dentro dos padrões do Vale do Silício para esta fase, o que seria algo em entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões.

A startup conta com três pesquisadores norte-americanos, além de Carolina e seus co-fundadores, o colombiano Andrés Ochoa e a cientista-chefe Alessandra Zonari, que fez seu doutorado em pele, na UFMG. Outras duas sócias (Mariana Boroni e Juliana Carvalho) ficam no Brasil.

Em busca do modelo de negócios perfeito

A Oneskin  segue a mentalidade de outras empresas que “vivem” no Vale do Silício: não tem pressa para colocar os produtos no mercado. De acordo com a empresa, os investidores, principalmente na área de biotecnologia, sabem que vale mais a pena ter um produto bem desenvolvido, que vá direto nos “peixes grandes”, do que pressionar pela geração de caixa logo no começo.

“Aqui você vê empresas como o Facebook, que primeiro tiveram presença no mundo inteiro, para só depois começarem a gerar receita”, comenta Carolina. Ela reconhece que fica ansiosa para ver o produto no mercado e receber feedback das pessoas. Mas precisa ter paciência e saber o timing de cada coisa.

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