18 de abril de 2024 20:29

Belo Vale: cidade inicia a maior produção em mexerica ponkan de Minas com previsão de colheita de 350 milhões de frutos; produção deve gerar R$ 60 milhões a economia local; doença é o maior desafio da cultura

Morar passar por Belo Vale entre os meses de maio e setembro é se deslumbrar com a coloração verde e amarela que toma conta de todo o município que tem área de 365 Km2. De qualquer lugar, olhando no entorno se vê os pomares de tangerina ponkan com os frutos maduros ou em maturação – contraste das cores verde e amarela/laranja

E ainda se deliciar consumindo a fruta de tangeria ponkan ou mexerica ponkan ou apenas ponkan, como pode ser denominado este fruto de aroma e sabor marcantes, além de ótimas para a saúde.

A casca é retirada com as mãos e os gomos se separam naturalmente, facilitando o consumo/degustação. A fruta, com caldo doce e pouco ácido, tem seu sabor ainda mais acentuado devido às condições climáticas da região de Belo Vale.

Do gênero Citrus, a tangerina é originária da Ásia (Índia e china) e chegou ao Brasil trazida pelos portugueses, no século XVI. Atualmente é produzida em todo o país e no território mineiro, principalmente nas regiões Central, Zona da Mata e Sul de Minas. Belo Vale se destaca como o município de maior produção do estado tendo produzido oficialmente 45 mil toneladas de frutos no ano de 2016.

Principais municípios produtores de tangerina ponkan em MG – Fonte: IBGE/PAM – 2016

Município Regiões Produção (mil t) % em MG
Belo Vale Central 45,0 21,3
Campanha Sul de Minas 24,3 11,5
Brumadinho Central 18,5 8,6
Piedade dos Gerais Central 18,2 7,1
Tocantins Zona da Mata 15,0 4,8
Total                                                                    

                        121,0

                                                         

             53,3

De laranja a tangerina

A cultura da tangerina ponkan teve início em Belo Vale pelos anos de 1957 quando o então produtor e comerciante de laranja Francisco Oliveira (Bidi) ganhou alguns galhos da planta de ponkan (ainda desconhecida). Aquelas galhas com borbulhas teriam sido doadas por alguém da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais e teriam vindo de Barbacena. A promessa era de que produziria frutos muito grandes e bonitos. Bidi e seu filho Chiquinho enxertaram as borbulhas e, com sucesso, produziram cerca de 100 mudas de tangerina ponkan. Essas mudas foram plantadas em Roças Novas e a produção dos frutos, cerca de 5 anos depois, foi um grande atrativo. Então Bidi e seus filhos começaram a fazer mudas a partir daquelas 100 primeiras plantas matrizes e vende-las na região. No ano de 1965 foi realizada a primeira comercialização em Belo Horizonte, com os frutos a granel. Realmente os frutos eram grandes e atrativos visualmente mas com pouco suco o que fez com que não tivesse boa aceitação. No ano de 1966 Bidi comercializou as frutas em Congonhas, durante o Jubileu. No final dos anos 60 e durante a década 1970 a produção de ponkan era pouco expressiva e pouco atrativa financeiramente ainda mais porque a produção e comércio de laranja estava em plena expansão e o mercado era garantido e seguro em Belo Horizonte – Mercado Central e Mercado Novo. No início dos anos 80 alguns produtores ousados iniciaram a produção comercial de tangerina ponkan. Nesta época os frutos já apresentavam melhor qualidade e aceitação. Em meados da década de 80, com a entrada da laranja de São Paulo em Belo Horizonte (CEASA) a concorrência ficou desleal, diminuindo o preço e a cultura de laranja começou a decair em Belo Vale. A plantação de tangerina foi tomando o lugar da laranja.

DESENVOLVIMENTO

A cultura da ponkan se adaptou bem ao nosso clima, os produtores aprenderam o cultivo e a atividade se mostrou rentável e atraiu novos produtores. Alguns em escala maior, principalmente na região de Roças Novas. Paralelamente, na mesma época, no município vizinho de Brumadinho a produção de tangerina ponkan também se consolidou e expandiu. Os frutos eram comercializados na CEASA e havia boa venda garantida para todos.

O ano de 1994 foi o apogeu da tangerina ponkan, quando uma caixa de frutos chegou a ser vendida pelo valor equivalente hoje a cem reais, o que causou grande euforia e ganhos financeiros.   A partir de 1995 teve início a “corrida da ponkan

Belo Vale é a maior produtora de ponkan de Minas

”.

Rapidamente os produtores rurais de Belo Vale foram iniciando seu pomares, de forma alternativa às atividades agropecuárias existentes e, alguns mais ousados, de forma definitiva e exclusiva.

A atividade foi se mostrando rentável e segura, atraindo mais e mais produtores que formavam novos pomares. Agora também nos municípios vizinhos – Piedade dos Gerais e Bonfim, além de Brumadinho. Foi aperfeiçoada também a técnica de produção de mudas em viveiros, enxertadas com as borbulhas retiradas de plantas com alta produção e boa qualidade de frutos. Este melhoramento genético, que possibilitou plantas resistentes, de grande produção e frutos de qualidade foi o sucesso do negócio. Com qualidade superior, os frutos ofertados atendiam a exigência do consumidor final.

Também a resistência da planta de tangerina ponkan a doenças como o CVC e cancro cítrico (bactérias) e pinta-preta (fungo) foi importante para manter a alta produção sem impactar os custos. Também possibilitou a manutenção de viveiros para produção de mudas.

NOVOS MERCADOS

No início dos anos 2.000, com a produção em grande escala e em constante crescimento, o mercado de Belo Horizonte já não mais absorvia as frutas produzidas em Belo Vale e região, incluindo Brumadinho. O preço despencou e alguns pomares ficaram até abandonados.

Mas rapidamente se abriram novos mercados, principalmente Rio de Janeiro e Espírito Santo. Logo em seguida os frutos já eram comercializados para a região nordeste. Não havia mais fronteiras para a tangerina ponkan e a cultura foi então crescendo ainda mais e a partir de 2010 de forma exponencial.

PRODUÇÃO ATUAL

Com emprego de tecnologias e tratos culturais adequados as plantas atingem alta produção e não é raro encontrar um “pé de mexerica formado” (a partir de 12 anos de idade) que produza 6, 12 e até 18 caixas de 20 kg (1.200 frutos).

Dados de campo, extraoficiais, indicam que Belo Vale tem hoje aproximadamente 4 mil hectares de área plantada (9% da área do município) com 2 milhões de plantas/pés de mexerica. Estima-se que a produção de frutos seja de cerca de 100 mil toneladas ou 5 milhões de caixas. Isto equivale a 350 milhões de frutos para a safra de 2018. Para tanto, o mercado foi ainda mais ampliando, sendo que atualmente são vendidos frutos para todas as regiões do país. Com a venda destas frutas deve “entrar” em Belo Vale cerca de R$ 60 milhões.

Produção de mexerica será a maior da história de Belo Vale

Com tamanha expressão, a cultura e o negócio da tangerina ponkan tem grande importância e impacto na socioeconomia de Belo Vale e região, gerando trabalho e renda para os produtores e trabalhadores rurais e movimentando comércio regional. Nunca ouve na história de Belo Vale uma atividade econômica que gerasse tanta riqueza e que fosse tão bem distribuída.

DESAFIOS

Com a tendência de aumento da produção, alguns desafios são colocados para manter a atividade de forma sustentável economicamente, socialmente e ambientalmente.

Destacam-se os seguintes desafios:

– Grande oferta de frutos em época concentrada de auge da colheita com redução de preço – não há beneficiamento industrial das frutas na região para absorver excessos de oferta.

– Disponibilidade limitada de mão de obra qualificada, principalmente na colheita que é toda manual – a vinda de famílias da região nordeste do Brasil e Norte de Minas tem causado impactos sociais.

– Necessidade crescente de uso de produtos agroquímicos para proteção de pragas e doenças – aumento no custo de produção e riscos de contaminação e intoxicação.

– Resistência depragas como o ácaro da falsa ferrugem que deprecia os frutos para o mercado.

– Ocorrência da doença Greening (bactéria) que é o maior problema da citricultura e tem causado sérios prejuízos nas grandes regiões produtoras de laranja no mundo – Flórida (Estados Unidos) e São Paulo. Esta doença tem alto poder de contaminação e “destrói” a planta de tangerina em pouco tempo – 3 a 4 anos. A contaminação e feita por um pequeno inseto que transmite a bactéria de plantas doentes para outras plantas podendo acontecer dentro dos pomares e também de um pomar para outro. As plantas infectadas não produzem mais frutos de qualidade e devem ser eliminadas o mais rápido possível para evitar novas contaminações. O controle do inseto transmissor é, essencialmente, com aplicação de inseticidas Esta nova doença aumenta os custos de produção e requer ainda mais atenção e esforço por parte dos produtores para evitar que se torne uma epidemia.

Dentro dessas perspectivas, e com o nosso reconhecimento, é que os citricultores de Belo Vale e região vem produzindo os atrativos e saborosos frutos de tangerina ponkan que são destaques em todo o país.

Autor:

  • Marcos Virgílio Ferreira de Rezende- Engenheiro agrônomo
  • Colaboraram os citricultores Jorge do Carmo (da Durica), Isaias Oliveira (do Bidí), Venceslau Oliveira (Lauzinho do Isaías) e Ademar Almeida (do Zé Flávio).

 

 

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